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Serasa: Negócios crescem mais que inadimplência
A expansão do crédito está amparada na confiança dos agentes econômicos na política do governo, que tem gerado um crescimento dos negócios maior do que o crescimento da inadimplência. É o que afirma o economista André Chagas, assessor da Serasa S.A., empresa privada que atua em pesquisas, informações e análises a partir do sistema de compensações financeiras do país.
André Chagas analisou os índices de inadimplência por cheques, ou seja, a devolução dos cheques por falta de fundos, divulgado esta semana pela Serasa. O levantamento apontou o aumento da inadimplência por cheques este ano. Segundo ele, o uso de um único indicador isolado para medir a inadimplência pode dar uma impressão errada de algo preocupante. Ele diz que a taxa de inadimplência é ainda menor do que o volume de negócios no país, impulsionados pelo crescimento do emprego e da renda.
"Não faria sentido ter uma oferta de crédito e de negócios num ambiente em que há risco elevado. Os agentes são avessos a riscos. E um país de aventureiros não conseguiria vender US$ 1,5 bilhão no mercado externo em sua própria moeda", afirma. Leia a seguir trechos da entrevista.
Agência Brasil A inadimplência por cheques, como meio de pagamento, ficou quatro meses estável e caiu apenas 3% em agosto. Mas o índice de agosto é 27,4% maior do que o de agosto do ano passado. Essa inadimplência é preocupante?
André Chagas - O indicador de cheque é só um dos indicadores. Importante, na verdade, mas eu não diria que é o mais representativo do que está acontecendo. O mercado de uma forma geral está acompanhando uma expansão muito forte do crédito pessoal. Você está tendo uma expansão para a aquisição de bens, em especial de veículos, que é praticamente 80% do total (do crédito para pessoa física) da aquisição de bens.
Abr Algumas entidades têm opinado que a expansão das vendas estaria sendo impulsionada pelo crédito consignado, com desconto no contra-cheque, e que, como este é permitido a até 30% do valor do salário do empregado, estaríamos caminhando para um estrangulamento do mercado, para uma inadimplência generalizada e impagável. Esse temor é concreto?
André Chagas - O crédito consignado é apenas um terço do que a gente chama de crédito pessoal, que inclui cheque especial, financiamento por cartão de crédito, empréstimo direto do banco, etc. E isso em volume de capital (e não em total de operações).
Abr Um terço de todo o crédito?
Chagas Não, um terço do crédito pessoal, do que resta, fora esses 80% dos automóveis. O crédito para as pessoas físicas está crescendo consistentemente. É razoável num ambiente de expansão de negócios, que você também tenha uma expansão de quantidade de títulos inadimplentes. Não se espera que a inadimplência seja zero.
A expansão do crédito de negócios está crescendo muito mais rapidamente do que a expansão da inadimplência. De modo que se você olhar para algo dinâmico, a inadimplência está caindo. E isso é reflexo desse ambiente econômico que estamos vivendo, de recuperação das expectativas dos agentes, por conta principalmente de uma política macroeconômica senão de todo desprovida de críticas pelo menos consistente, que não tem passado por mudanças bruscas. Isso é importante para manter a confiança dos agentes.
Quando fazemos a comparação entre as variações, imaginando que eu tivesse um nível de inadimplência em julho do ano passado, e fosse medida em variações de negócios contra variações de títulos inadimplentes, nós teríamos alguma coisa 10% menos do que em julho do ano passado. E no acumulado de doze meses, contra o acumulado de doze meses, você tem uma queda ainda maior, de quase 14%. De certa forma é o que o mercado está sentindo. Não faria sentido você ter uma oferta de crédito e de negócios num ambiente em que há risco elevado. Os agentes são avessos a riscos.