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Manoel Afonso homenageia o Vavá das Flores

Por Manoel Afonso  em 27 de julho de 2006 - 09:18

“Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem
rosas”.

O grande Edmond About apregoava: “Ninguém pede milagre a cada homem que nasce, mas apenas que deixe algo depois de sua vida.” Um pensamento verdadeiro, uma obra literária, um instrumento, uma causa digna, uma pesquisa científica, uma casa, um livro ou uma estrada, por exemplo, podem marcar a passagem do sêr humano pela terra. Como o nosso objetivo aqui é reconhecer e destacar os méritos dos que honram os homens do passado, auxiliam os do presente e semeiam sementes para os pósteros, não foi tarefa difícil buscar o nome de Osvaldo José do Santos, conhecido também carinhosamente por “Osvaldo Jardineiro” ou “Vavá das Flores” , falecido em 20 de junho de 1999, com quase 73 anos de idade.
A Ecologia é hoje o grande discurso de alguns segmentos políticos no Brasil, imitando aquilo que ocorre em maior escala nos países do lº Mundo. A defesa da natureza, não essa de discursos estéreis que só buscam espaço na mídia ou votos, já era pratica habitual na postura do homenageado. Bem antes de sua incursão pela vereança, já observávamos sua preocupação com o verde, quer nos espaços públicos, bem como nas residências cassilandenses. Quando presidimos o Rotary Club, tivemos sua ajuda para promover uma campanha de arborização na parte central da cidade. Deu para perceber seu entusiasmo e amor pela causa. Aliás, não são poucos os jardins que ornamentam nossas casas, que foram beneficiados pelo homenageado: uma mudinha que ele fazia questão de plantar, uma poda feita com sua mão santa, um recorte do canteiro para combinar com o espaço ou o aconselhamento para a adubação apropriada. Caprichoso, como ele só, deu outro visual as praças públicas, quando foi indicado para essa missão. Por várias vezes, ali na Praça São José, deparei com o Osvaldo Baiano cuidando de plantas, tal como um médico efetivando uma delicada intervenção cirúrgica para salvar uma vida. Compenetrado em sua ação, quase que não ouvia ou percebia a aproximação de estranhos. Afinal, ele estava ali em seu mundo especial, onde reinavam as rosas, lírios, orquídeas, cravos, margaridas, samambaias e tantas outras espécies. Um mundo do qual ele compartilhava com as abelhas, borboletas, cigarras, sabiás e com os beija-flores que vinham sugar o precioso néctar.
Estivemos várias vezes lá em sua casa. Um sarro! Era flores e plantas em todos os lugares. A sua companheira Gonzalita, sorridente, parecia conformada em dividir a atenção e o amor do seu Vavá, com o eterno caso que ele mantinha com a rainha Natureza. A casa deles até parecia casa de benzedor ou algo parecido: toda hora tinha gente chegando em busca de uma planta ou para pedir a opinião sobre isso ou aquilo. E aí o Osvaldo Baiano era só alegria, paciência e sorriso para todos. Ninguém saia de lá com as mãos vazias ou sem a resposta desejada.
Nascido em Maracas, esse bom baiano, descendente de índios e africanos, só estudou até o 4º ano primário em Jequié, e diante das necessidades da família humilde, começou cedo no trabalho de construção de açudes do programa governamental contra a seca. No final da década de 40, diante das dificuldades de sua terra, resolveu vir tentar a sorte no Sul do País, acabando por chegar até Três Lagoas, juntamente com seu mano Manoel do Nascimento. Dada a facilidade em relacionar-se, começou a mascatear pela nossa região, vendendo principalmente tecidos e relógios. Como tivesse gostado de Cassilandia, por volta de 1950, acabou por mudar-se com a mulher Gonzalita e os filhos Itajaci, Maria Angélica, Antonio de Jesús e Izaura. Posteriormente nasceram Maria da Conceição e Pedro Paulo. Na sua fase inicial acabou indo morar na Fazenda da Família Nogueira, e quando mudou-se para a vila, trabalhou vendendo lenha em sua carroça, tornando-se figura por demais conhecida. Na 1ª administração do Pernambuco, ele trabalhou como fiscal e quando da construção da Hidroelétrica, ajudou quebrando pedra e concretando a base que sustentava a turbina. Esse envolvimento com a administração pública, levou nosso homenageado a despertar sua preocupação com as causas da comunidade e daí para a efetiva participação na política foi um pulo. Ele que adorava participar das reuniões políticas, ainda do tempo da UDN, não perdia a chance de levar seu abraço às autoridades que nos visitavam. Mas no pleito municipal de 1982, saiu candidato à vereança e revelou-se competente. Seus pronunciamentos no palanque, diferenciava-se dos outros candidatos. Dizia da necessidade de urbanizar de forma correta, e efetivar uma campanha de arborização das ruas e logradouros públicos. Seu marketing pessoal nos comícios era distribuir rosas aos presentes, uma pratica que valeu-lhe o apelido carinhoso de “Vavá das Flores”. Eleito, não decepcionou na Câmara e foi autor de lei que protege as árvores. Também não se valeu do cargo para vantagens de ordem pessoal. Comedido, jamais esteve envolvimento em situações desgastantes, procurando ser o ponto de equilíbrio entre os vereadores da situação e oposição.
O Osvaldo Baiano tinha transito livre e excelente ambiente em qualquer roda social. Era possível vê-lo lá no fim da Vila Pernambuco, tomando café numa casa humilde, como era normal tomar café também na casa do Jorci Barbosa ou lá no hospital do dr. Adaias. Sua conversa era agradável, macia, de quem não tem pressa de terminar um bom papo. Aliás, cansamos de vê-lo ali no Armazém do Joaquim Silva, onde juntamente com o Waltão, o Divino de Castro, o Antonio Lacerda e outros, cheirando o rapé de fumo.

Hoje, quando a cidade já apresenta outro visual, onde o verde está presente para inclusive amainar os efeitos das altas temperaturas de verão, é de se estabelecer esse elo com a iniciativa pioneira de nosso homenageado. Que outros vavás apareçam para dar continuidade a sua obra que hoje dá: frutos e muita sombra.
É a nossa homenagem ao saudoso amigo.

Manoel Afonso