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Manoel Afonso escreve: Eleições & Deus & Fé

Por Manoel Afonso  em 24 de abril de 2008 - 08:01

Max Weber, o sociólogo preferido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já pregava: “aqueles que buscam a salvação das almas, a sua e a do próximo, não devem buscá-la nas avenidas da política.
Na pratica o que vemos hoje é a corrida inversa de sua tese: do Tibete - de Dalai Lama, passando pelo Oriente Medio e chegando até ao Paraguai, onde temos um exemplo atualíssimo: o bispo licenciado Fernando Lugo acaba de se eleger presidente. Simpatizante da Teologia da Libertação, seu discurso é do cristianismo adaptado aos tempos atuais, combatendo as desigualdades sociais e defendendo os pobres e oprimidos.
No Brasil, com a Igreja Católica vivendo crises ética e teológica, facilitou o avanço de seitas das mais diferentes facetas, onde o pastor – um homem comum e mais próximo dos fieis - passou a ser um agente político importante junto as camadas sociais mais carentes. O resultado pode ser visto na chamada “bancada evangélica” no Congresso Nacional, além da presença cada vez mais constante nas Assembléias Estaduais e Câmaras Municipais.
E não se pode esquecer que Lula foi eleito com apôio de importantes e influentes setores da Igreja Católica que o acompanha desde a época de sua militância no sindicalismo. É a mesma Igreja que se posicionou contra a Ditadura, protegendo perseguidos do regime militar e criticando o sistema de escolha indireta dos governantes.
Seria o caso de se questionar: se entidades e classes produtoras elegem seus representantes em defesa de seus direitos, porque a Igreja não pode trilhar o mesmo caminho? Poder, Deus e fé caminham juntos desde a época de Cristo. Claro que os excessos estão acontecendo a céu aberto, mas a opinião pública há que distinguir ou separar funções. Quem garante que o bispo paraguaio, apesar das boas intenções, será um bom governante? Que garantia há que todos os fieis votarão no seu pastor ou no candidato por ele indicado?
Convenhamos: é muito melhor que tenhamos candidatos com algum tipo de comprometimento com a Igreja, do que o absurdo anunciado recentemente, onde o famigerado PCC pretende patrocinar candidaturas nas próximas eleições.
Neste cenário, é importante o papel da mídia em esclarecer, orientar, criticar e denunciar aqueles que pretendem usar a religião para fins ilícitos, inclusive vantagem pessoal. O caso do ex-bispo Rodrigues, que renunciou ao mandato na Câmara Federal, é um bom exemplo de religioso picareta desmascarado.


Manoel Afonso
Comentarista da TV. Record-MS