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Idoso enfenta riscos dentro de casa
Aparentemente não há nada de errado com a decoração e a arquitetura das casas brasileiras. Hábitos comuns como encerar o piso, ter uma mesa de centro na sala e colocar tapetes nos quartos ou corredores até garantem um certo padrão de beleza às residências. Já em relação à segurança não se pode dizer o mesmo. Cerca de 75% das quedas de idosos acontecem nas próprias casas e poderiam ser evitadas num ambiente mais favorável. De acordo com dados do Ministério da Saúde, um terço dos atendimentos de lesões traumáticas na rede pública de saúde é de idosos. Diante disso, o ministério orienta a população a fazer pequenas adaptações que ajudam a reduzir o risco de acidentes nos lares.
Em mais de 70% dos casos de pessoas idosas com história de quedas, elas acontecem dentro de casa. Em cada dez casos aproximadamente, um leva a fratura, assinala a coordenadora da Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Neidil Espínola da Costa. Ela afirma que os acidentes com idosos são uma grande preocupação do ministério. Isso porque a recuperação física nessa fase da vida é mais difícil, mais complicada e mais lenta. Durante o período de recuperação, os idosos ficam sujeitos a desenvolver doenças pulmonares e problemas nas articulações, provocados pela falta de exercício regular. O medo de novas quedas leva o idoso a diminuir suas atividades, provocando a síndrome da imobilidade.
O trajeto quarto-banheiro, principalmente à noite, é onde mais acontecem quedas. Na maioria das vezes, esses acidentes ocasionam fraturas do colo do fêmur. Noventa por cento desse tipo de fratura são causados por quedas e somente 50% dos idosos hospitalizados por esse motivo são capazes de retornar às suas atividades de vida independentemente, observa Neidil Espínola.
A dona-de-casa Julieta Coelho Rios, de 95 anos, foi vítima de um acidente doméstico que poderia ter lhe rendido graves problemas de saúde. Ao tomar banho, resolveu ensaboar o pé, mas escorregou e caiu de costas dentro do box. Por sorte, a queda só me causou um grande galo na cabeça, mas o médico disse que poderia ter sido bem pior, lembra Dona Julieta. Na minha idade, todo cuidado é pouco, não dá mais para fazer todos os movimentos com segurança, acrescenta.
Segundo Neidil, uma forma de evitar casos como esse é a adaptação do banheiro, com a colocação de uma barra de apoio próxima ao chuveiro. Assim, ao se desequilibrar, a pessoa pode segurar na barra e tentar se manter de pé. Outras medidas reduzem os riscos de queda dentro de casa (ver box), mas também é importante que os idosos não dêem chance ao perigo. Eles devem evitar certas atividades que representam risco, como subir em bancos ou escadas para pegar alguma coisa, andar no escuro e lavar o piso com sabão, alerta Neidil.
Outros tipos de acidente, como queimaduras, também são freqüentes com idosos em casa. É comum, por exemplo, eles esquecerem de fechar o gás de cozinha após o uso. Por isso, é recomendável instalar um dispositivo de alarme no fogão para identificar se está vazando gás. O idoso corre mais risco em casa até mesmo do que as crianças, ressalta Neidil Espínola.
Cerca de 73% da população idosa, que hoje já chega a 13 milhões de brasileiros, são atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A coordenadora da Saúde do Idoso afirma que, com o envelhecimento da população, há uma maior necessidade de diminuir as barreiras arquitetônicas para facilitar o acesso dessas pessoas não só nas casas como nas cidades. Nesse sentido, Neidil ressalta a importância de os ambientes públicos e privados estarem adaptados para facilitar a locomoção de idosos e das pessoas com deficiência permanente ou transitória.
Adaptações simples garantem uma casa segura
Tornar a casa um ambiente mais seguro de se viver, principalmente para idosos e crianças, não é tão complicado quanto pode parecer. Pequenas mudanças na decoração e organização dos móveis já fazem diferença. E o melhor é que para isso não é necessário um gasto muito elevado. Na verdade, o custo de uma casa considerada mais segura não é maior em relação às outras; a diferença está no projeto arquitetônico e decorativo, que deve ser repensado, destaca a coordenadora da Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Neidil Espínola da Costa.
Segundo Neidil, é preciso repensar a altura dos armários, a iluminação, a organização dos móveis e a utilização de escadas, entre outros detalhes. Nos quartos, por exemplo, o ideal é que a cama e o colchão não sejam nem muito altos nem muito baixos, com uma altura de aproximadamente 45 cm. É bom ainda que a cama seja larga para que, ao se movimentar, o idoso não caia.
O piso não deve ser escorregadio e, se possível, é bom evitar o uso de tapetes, principalmente nos corredores. Nas casas com escadas, o Ministério da Saúde recomenda altura máxima de 15 cm entre os degraus, piso antiderrapante e sinalização diferenciada no primeiro e último degraus. É essencial que o corrimão das escadas vá além do último degrau, destaca Neidil.
No banheiro, são recomendadas a instalação de barras de apoio e a adoção de portas largas e, de preferência, não deve haver box nem tapetes. Os armários e estantes da cozinha devem estar na altura da cintura ou do peito para facilitar o acesso dos idosos aos utensílios. Assim, evita-se que eles subam em escadas para pegar algo e enfrentem o risco de quedas. Os móveis devem ser resistentes para apoio e não estar localizados em locais de passagem.
Sofás e cadeiras devem ser mais altos e ter braço de apoio para auxiliar o idoso a se levantar. É preciso um cuidado especial com os interruptores, que devem estar próximos às portas, em altura mediana. É importante ainda que não haja grandes mudanças de iluminação nos diferentes cômodos da casa, conclui Neidil Espínola.