Geral

Em apenas 36 dias, 16 internações diárias colocariam Saúde em colapso

Projeção faz parte do estudo de simulação de cenários preparado por universidade

Por Correio do Estado  em 01 de maio de 2020 - 16:30

Em apenas 36 dias, 16 internações diárias colocariam Saúde em colapso

Modelo baseado em simulações de cenários mostra que o sistema de saúde de Campo Grande poderia entrar em colapso caso fossem registradas 16 internações diárias por conta da Covid-19 durante 36 dias. O estudo parte do dia 23 de abril, então, a estimativa é que, caso esse cenário se confirmasse, não haveria mais leitos no dia 29 de abril.

A pesquisa foi feito por professores e alunos da Faculdade de Engenharia (Faeng) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e levou em consideração dados passados pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) e pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes).

O modelo segue sete etapas: levantamento da quantidade de leitos hospitalares, de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de respiradores disponíveis para o combate à Covid-19; levantamento do tempo entre chegadas (TEC) de pacientes encaminhados para leitos hospitalares, de UTIs com e sem respiradores e a partir dos dados referentes às internações já realizadas; levantamento do tempo de permanência dos pacientes internados nos diferentes tipos de leitos; estimativas da proporção de pessoas que deram entrada em leitos hospitalares de UTIs com e sem respiradores; identificação das expressões matemáticas que melhor descrevem os dados coletados; modelagem do fluxograma do processo de internação; e simulação computacional e análise dos resultados.

Conforme a professora doutora em Engenharia de Produção e Ciência da Computação Carolina Lino Martins, uma das coordenadoras da pesquisa, a ideia da criação desse modelo veio do fato de que um dos principais problemas causados pelo novo coronavírus é justamente na estrutura de saúde das cidades.

“Um dos gargalos é a infraestrutura da saúde, se ela tem capacidade para absorver os pacientes que necessitam de internação e para que ela possa se preparar. Fizemos o estudo com o intuito de auxiliar os gestores para tomarem decisões, evitarem um possível colapso e salvar a maior quantidade de vidas possível”, declarou a professora.

Além de Lino, fazem parte da pesquisa o professor João Batista Sarmento dos Santos Neto, os alunos Gabriel Ensinas e Renan Della Senta Miguel e a mestranda Naylil Liria Baldin Lacerda.

Até o dia 23 de abril, quando os dados foram coletados, Campo Grande tinha 97 casos confirmados da doença, conforme boletim divulgado pela Sesau – 12 estavam internados. A pesquisa afirma que a taxa de internação, levando esses dados em consideração, era de 0,6 pacientes ao dia, valor muito abaixo do que foi considerado no cenário mais catastrófico da Covid-19.

Dados de internação desta quarta-feira, porém, são ainda menores que os da semana passada. Apesar de a Capital ter ampliado a quantidade de casos confirmados, chegando a 128, o número de pessoas em leitos hospitalares caiu para oito, sendo todas na rede privada.

“A simulação de 90 dias no cenário extremo é de que 21,84% do tempo em média os respiradores ficarão em uso, 86,48% do tempo os leitos de UTI ficarão em uso e 12,78% do tempo os leitos de enfermaria ficarão em uso. Portanto, o gargalo de Campo Grande não são os respiradores e nem os leitos de enfermaria. O gargalo são os leitos de UTIs”, diz trecho do estudo

A pesquisa ainda revela que caso este cenário aconteça, o tempo médio de espera por um leito após 90 dias seria de 9,5 horas e o tempo máximo, de aproximadamente dois dias.

De acordo com a professora, para a semana que vem, o grupo já prepara outro cenário usando o mesmo modelo. E além de Campo Grande, o projeto pode ser ampliado para outras cidades. “Nosso estudo depende da disponibilidade e qualidade dos dados sobre leitos, respiradores, quantidade de pacientes internados e quanto tempo eles ficam em observação. Então, dependemos dessa disponibilização das autoridades de cada município”.

O estudo feito por cinco universidades do País que calculou o quão perto as estruturas de saúde das capitais estão do colapso em razão da quantidade de pacientes internados por causa da pandemia causada pela Covid-19 mostrou que Campo Grande seria a penúltima a ficar sem vagas em unidades de saúde.