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Cigarro: Quase cinco milhões de pessoas morrem por ano

Por Agência do Rádio  em 26 de agosto de 2008 - 07:54

O consumo de cigarro perdeu muito do seu glamour, mas ainda hoje é um hábito bastante comum. Um bilhão e duzentos milhões de pessoas fumam em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Isso equivale a dizer que, de cada seis pessoas, pelo menos uma é fumante. A quantidade de mortes por causa do tabaco também é grande: quase cinco milhões de pessoas morrem todos os anos. Metade delas entre trinta e cinco e sessenta e nove anos, no auge da idade produtiva. O fumo é uma das principais causas de mortes que poderiam ser evitadas, como alerta o oncologista Murilo Buso.


"O tabaco, o cigarro, ele é a maior causa de câncer conhecida. Então, ele sozinho é responsável por cerca de 25% a 30% das causas de óbito por câncer. Ele é a maior causa evitável de morte que nós temos. Se nós tirarmos o tabaco da sociedade, a gente reduz consideravelmente, cerca de ¼ dos óbitos das doenças crônico-degenerativas e câncer."

Além dos perigos apontados pelo médico Murilo Buso, é preciso lembrar que o cigarro causa problemas também para os não-fumantes. Por isso, países como França, Inglaterra, Irlanda e, recentemente, o Brasil, adotaram medidas restritivas para o fumo em ambientes fechados. A idéia é preservar, pelo menos, a saúde dos fumantes passivos. Pessoas que trabalham em boates, bares ou locais em que a fumaça de cigarro é constante são as mais expostas a doenças respiratórias por causa do fumo passivo. É o que destaca o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia do Distrito Federal, Anderson Silvestrini.


"Principalmente, aquela exposição que é contínua, é muito preocupante. Tem os efeitos a curto prazo que é irritação nos olhos, manifestações nasais, coriza, tosse, dor de cabeça, problemas alérgicos, um pouco de taquicardia. À médio e longo prazo, a pessoa pode ter uma redução da capacidade respiratória, ter mais infecções respiratórias, pode ter aumento da arteriosclerose também e tem aumento da incidência de câncer."

Segundo o oncologista Anderson Silvestrini, as crianças que convivem com fumantes também têm mais chances de ter infecções respiratórias. O coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia, Jonatas Reichert, alerta que os mais jovens são mais vulneráveis aos perigos do cigarro.


"Cada vez as crianças estão se expondo mais precocemente. Então, vai ter um maior tempo de exposição às substâncias maléficas do tabaco e vão ter mais chances de ter doenças graves com o passar do tempo. Nós temos que considerar que o aparelho respiratório das crianças é bem mais vulnerável que o dos adultos e as defesas imunológicas não estão desenvolvidas na sua totalidade. O fumo nessa época encontra um terreno desprotegido."

O coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia lembra que o perigo é ainda maior para quem começa a fumar na adolescência. Pesquisas mostram que, em todo o mundo, cerca de noventa por cento das pessoas que fumam experimentaram o primeiro cigarro antes dos dezoito anos, influenciados pela mídia, pelos amigos e, até mesmo, por familiares. Na área médica, o tabagismo é considerado uma doença pediátrica, já que a maioria dos fumantes se torna dependente ainda na adolescência, como explica o diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer, Luiz Antônio Santini.


"Hoje em dia a Organização Mundial de Saúde considera o tabagismo uma doença pediátrica, por quê? Porque, primeiro, as crianças são submetidas à fumaça do tabaco em ambiente de trabalho, muitas vezes, e até em ambientes domésticos. E, segundo, porque o início do fumo, por parte da juventude, tem reduzido na idade. Então, por exemplo, no Brasil, você encontra crianças na idade de 12, 13, 14 anos, já começando a fumar. E essas idades ainda são consideradas idades pediátricas."

O diretor do INCA acrescenta que, todos os dias, cerca de cem mil jovens experimentam o primeiro cigarro. E as indústrias de tabaco podem ter sua parcela de responsabilidade. Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, os adolescentes são o público-alvo de várias propagandas dessas empresas. O ministro espera que, com as campanhas de esclarecimento, os jovens possam ser melhor informados sobre os males do cigarro.


"É claro que nós estamos preocupados com toda a população, inclusive, o ministério tem uma responsabilidade que é também oferecer tratamento para as pessoas que querem parar de fumar. O fumante é um dependente químico da nicotina, e precisa de ajuda para parar de fumar. Mas os jovens são o nosso foco, a nossa grande preocupação, porque nós percebemos que a indústria desenvolve uma estratégia para capturar essa garotada. Nós queremos é mostrar o outro lado, a outra face da realidade."

O ministro da Saúde afirma que, mesmo com a proibição de propagandas de cigarro nos meios de comunicação, as indústrias de tabaco encontram formas indiretas de divulgar suas marcas. Elas patrocinam eventos culturais e esportivos, aparecem em games e na internet, além de realizarem ambientações em clubes e bares. Uma iniciativa que pode ajudar a diminuir o número de fumantes no País é aumentar o preço das carteiras de cigarro. Essa é a recomendação da Organização Mundial de Saúde, a OMS. De acordo com a organização, o Brasil é considerado um exemplo no combate ao tabagismo no mundo, mas os cigarros brasileiros são muito baratos. Isso facilita o acesso e o consumo de tabaco pelas pessoas. O diretor da Iniciativa Livre de Tabaco da OMS, Douglas Betcher, explica os passos que o Brasil deve seguir.


"Por exemplo, na área de taxação, de impostos e preços. A OMS recomenda o início de uma política de longo prazo de aumentos de impostos de maneira gradativa de todos os produtos de tabaco. Além disso, a OMS recomenda um forte compromisso do governo para aumentar significativamente os preços dos produtos de tabaco nos próximos anos."

Para o diretor da Organização Mundial de Saúde, ao contrário do que argumentam algumas autoridades, não existe evidência que relacione o aumento dos impostos de tabaco com o aumento do tráfico desses produtos.

Reportagem, Cynthia Ribeiro